Para Pensar!

"Em missão"


Olha o horizonte, amigo

E vê o mundo que passa.

Todos esperam por ti,

Por esse dão, por essa graça.


Tens em ti o compromisso,

O testemunho de uma missão.

Dá um passo em frente e segue.

Vai ao encontro do irmão.


Já todos esperam por ti,

Buscam um animador.

Escuta o chamamento:

Serviço, respeito e amor.


Tens fé e formação

Conheces a realidade

E depois deste teu Curso,

Serás especialista em humanidade.


Dinamizas e orientas,

Acompanhas e escutas.

Na partilha e no diálogo,

Sabes que também educas.


Prudente e assertivo,

Sabes como incentivar.

Todos confiam em ti

Para os poderes animar.


Madalena Rubalinho

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Importância da Formação em Animação Sociocultural

No decorrer do exercício da minha actividade profissional com a população idosa no Centro de Dia, valência inserida no Centro Social de Lourosa, tenho desempenhado funções de apoio à área de Animação sociocultural, realçando que, durante um longo período, a Instituição não tinha Técnico de Animação sociocultural.
Logo no início observei, que os idosos, por si só, passavam o seu tempo sentados, inactivos, apresentando um ar triste e melancólico. No entanto, no decorrer das minhas tarefas, eu tinha o hábito de me abeirar deles, para melhor os conhecer e entender a forma como eles gostariam de ocupar o seu tempo, no período em que se encontravam no Centro de Dia. Estes cidadãos estabeleciam diálogo comigo, gostavam de falar sobre a sua história de vida e sentiam-se imensamente felizes ao serem ouvidos com atenção e interesse.
De acordo com os contactos que ia mantendo com aqueles cidadãos, percebi, que eles (alguns com alguma dependência física e mental) encontravam-se no Centro de dia, porque viviam sozinhos nas suas casas. Uns porque não tinham família, outros tinham filhos mas exerciam actividade profissional, pelo que, durante as horas normais de trabalho não estavam em casa, não possuindo, assim, condições para prestar os cuidados de apoio social, de que os mesmos careciam.
A solidão era de facto, uns dos principais motivos da sua estadia no Centro de Dia. A par desta situação e, tendo em consideração as limitações de fragilidade física e psicossocial, bem como a rotina monótona, a que os mesmos poderiam estar sujeitos na Instituição, eu elaborei e incentivei o desenvolvimento de diversas actividades, que iam ao encontro dos seus desejos (Jogos tradicionais diversos, leitura dos temas principais dos jornais diários e revistas “cor-de-rosa”, conversas livres, pequenas caminhadas ao ar livre e outros movimentos físicos, passeios, festas, convívios, danças e cantares, promoção e participação em concursos, trabalhos de destreza manual).
A maioria dos frequentadores do Centro de Dia, de acordo com as suas potencialidades, participavam nas actividades, com empenho, entusiasmo, interesse e alegria.
A Direcção da Instituição, reconhecia o meu trabalho, referia que eu tinha uma apetência especial para trabalhar com a população idosa, dirigindo-me a observação de que só me faltava o “diploma”.
Nesta sequência, eu vinha sentindo a necessidade de adquirir bases teóricas que sustentassem o trabalho, que vinha desenvolvendo, pois eu gostava bastante de lidar e trabalhar com esta faixa etária da população, gosto que era recíproco.
Assim, iniciei e desenvolvi o meu percurso académico no ensino superior, no curso de Animação sociocultural.
Ao longo deste percurso fui percebendo que a experiência profissional, que me tinha ajudado a desenvolver a minha actividade profissional era uma aquisição valiosa, mas, de todo, insuficiente, se queremos desenvolver um trabalho tecnicamente sustentado.
O que fui aprendendo ao longo deste percurso escolar (aquisição de bases teóricas, que incluem a importância da realização dos trabalhos sustentados em estudos de vários teóricos) em muito tem contribuído, para a minha compreensão sobre a problemática do envelhecimento. Perante a minha profissão, esta situação permitiu que eu adquirisse uma nova postura e um olhar um diferente, com capacidade de crítica reflexiva e construtiva.
A este propósito realço a importância que teve para mim, o trabalho que elaborei sobre a velhice e a solidão retratadas no filme “As confissões de Schmidt”, de Alexander Payne.
Fazendo uma sucinta Sinopse do filme, Schmidt acaba de se aposentar de uma firma de seguros, especialista em estatísticas, na cidade de Omaha, Nebraska e vê-se diante de várias encruzilhadas, todas ao mesmo tempo. Ao aposentar-se, ele sente-se completamente perdido. Além disso, sua única filha quer casar com um sujeito que ele considera “simplório” e a sua mulher morre de repente após 42 anos de casamento.
Sem trabalho, sem esposa e sem família, Warren Schmidt sente-se desesperado para encontrar algo que dê sentido à sua vida. Ele parte numa jornada de auto descoberta, investigando suas raízes através do estado do Nebraska, no trailer como havia planeado viajar pelo país com a sua falecida esposa.
Seu destino final consistiu em tentar desesperadamente transpor a barreira que se criou entre ele e sua filha.
Schmidt precisa olhar para a sua própria vida e lidar com a velhice e sua solidão.
Neste filme, a velhice é desnudada e apresentada cruamente, sem eufemismo: pêlos nas orelhas, rugas ao redor dos olhos e a solidão de sentir que a sua vida está acabando, sem que Schmidt tenha feito algo realmente importante, que o faça imortal de alguma maneira.
Em suas reflexões e descobertas, Schmidt lamenta ao constatar que quando ele morrer, e as pessoas que o tiverem conhecido também tiverem morrido, será como se ele nunca tivesse existido, pelo que deixa transparecer o slogan do tipo “dê valor a uma pessoa enquanto você a tem por perto”.
Falar do envelhecimento, da solidão e da morte com verdade, é a proposta do filme.


Reflexão Crítica - Reforma e Isolamento Social
A reforma normalmente tem tendência a favorecer o isolamento social, inactividade e a depressão pela retirada do mundo do trabalho, que independentemente da vontade de cada um, pode gerar no indivíduo falta de importância, de utilidade e de auto-estima, sobretudo numa sociedade em que o indivíduo está ligado ao trabalho e à rentabilidade.
Há autores que chegam a afirmar que a sociedade estimula a consciência do envelhecimento. Como se não bastasse, ocorre num ponto em que a capacidade adaptativa está mais limitada.
Por outro lado, a imposição da reforma sem alternativa de ocupação útil, uma vez que não sendo devidamente preparada, leva frequentemente à inactividade, que, por sua vez, gera o sentido funcional da dependência: «incapaz não necessariamente pelo estado das suas faculdades, mas porque lhe foi retirada a legitimidade social para o fazer» (Pereira, 2008).
- É neste sentido que a reforma favorece o isolamento social, a inactividade e a depressão, pela retirada do mundo do trabalho, independentemente da sua vontade, gera no indivíduo falta de importância, de utilidade e de auto estima, sobretudo numa sociedade em que se valoriza a pessoa ligada ao trabalho e à rentabilidade. Mas a adaptação ao envelhecimento nem sempre se faz da mesma maneira.
Como a esperança média de vida tem vindo a aumentar, pretende-se que as pessoas mantenham uma qualidade de vida razoável à medida que a idade avança. É provavelmente este aspecto que diferencia a velhice bem sucedida de outra mal sucedida.
Esta ideia pode ser apresentada esquematicamente, de forma a se poder reflectir melhor sobre esta questão:

Quadro 1- O ciclo de vida negativo: ciclo vicioso de doença no idoso

- Alguns idosos acomodam-se, tornando-se dependentes e passivos e não fazem nada para alterar as coisas.


Quadro 2 - O ciclo de vida positivo

- Alguns idosos aceitam as perdas próprias da 3ª idade, mas consideram também os ganhos e as actividades compensatórias;
- Alguns idosos realizam o máximo de actividades, no sentido de recusar o envelhecimento;

É óbvio que não podemos generalizar este encadeamento pelo historial do indivíduo e pelo meio sociocultural. Os idosos que consideram a velhice como fenómeno que dá sentido à vida, são felizes e implicam-se mais no meio e na sociedade, o que passa pelo reconhecimento de aspectos positivos (tais como sistema de valores estável).
Tal não significa escamotear que é um facto que o envelhecimento pode acarretar situações de solidão e dependência, mesmo em pessoas que têm uma atitude positiva em relação à vida.
- A dimensão psicológica (carácter geral): a intervenção com as pessoas idosas permite níveis maiores de auto-conceito e auto-estima, bem-estar, realismo perante o apreço das próprias competências, maior estabilidade emocional e diminuição da ansiedade.
Finalmente, no âmbito das perspectivas que mais nos interessa, encontra-se o nível social: a participação na vida comunitária é importante em todos os momentos, mas, particularmente para a pessoa, que chega à idade da reforma e se mantenha activa (através de múltiplas actividades, entre as quais, as educativas, a que nos referiremos posteriormente).
Esta participação é uma referência importante porque permite, entre outros aspectos, novas relações sociais, redes de contacto (associativismo e voluntariado), melhor conhecimento de si próprio e superação da invalidez devido ao contexto da reforma, criação de compromissos e participação no desenvolvimento comunitário ao gerar laços de aproximação na comunidade em que vive.

A Animação Sociocultural como uma área de Intervenção
A animação, a cidadania e a participação constituem a tríade básica da pessoa humana com anima e com animus, digna do ser humano que sente, que tem talento, que interage e se relaciona com os outros, procurando dinâmicas e processos de reflexão – acção rumo ao auto – desenvolvimento” (Peres e Lopes, 2006). Segundo os autores, a animação sociocultural emerge como uma forma de acção numa sociedade que exige cidadãos com cidadania. Isto implica uma participação comprometida com o desenvolvimento e a autonomia do ser humano na comunidade. Os autores referidos salientam que a animação, cidadania e participação devem ser entendidas como práticas transversais à vida da pessoa humana e aos seus sonhos, em direcção a uma sociedade mais justa e solidária.
De acordo com Peres e Lopes (2006), no âmbito da animação sociocultural, é preciso ter presente alguns dos seus contributos, nomeadamente a democracia e a educação popular, que a par de outros elementos estruturantes, constituem modos de vida que implicam passar do ver ao envolver, da passividade à acção, da delegação à participação, ou seja, torna-se imprescindível passar de espectador a actor com responsabilidade ética e política, pois não há animação sem participação. Trata-se de uma participação social que promove o ser humano como actor comprometido, valorizando a cultura como processo de interacção humana e de diálogo intercultural.
Através da planificação e implementação de programas adequados, o Animador sociocultural presta o seu contributo, no sentido de se poder criar novas possibilidades de intervenção e que se possam prever e regular necessidades futuras. Torna-se pertinente, que os diversos “actores” a partir das suas próprias respostas, aprendam e utilizem as informações que eles mesmos geram. Assim, e, como refere Trilla (1998), “favorece-se uma maior flexibilidade e adequação às mudanças”.
Cabe aos profissionais envolvidos num programa de intervenção, entre eles o animador sociocultural, abordar a problemática em questão nas suas circunstâncias globais, que interceptam culturas diversas, valores e oportunidades que determinam comportamentos, os quais se inter-relacionam de uma forma sistémica.

A Animação Sociocultural em Centro de Dia e outras valências similares

Na sequência do que foi referido sublinhamos que “O lazer é um direito humano fundamental, tal como a educação, o trabalho e a saúde, e ninguém devia ser privado desse direito por questões de género, orientação sexual, idade, raça, religião, estado de saúde, incapacidade ou situação económica” (Carta Internacional da Educação, 1993).
Neste contexto e como refere Trilla (1998), uma das funções chave da animação sociocultural, consiste no facto das pessoas e grupos se transformarem em agentes e protagonistas do seu próprio desenvolvimento.
Segundo o mesmo autor “O que interessa nos processos de animação é gerar processos de participação, criando espaços para a comunicação dos grupos e das pessoas, tendo em vista estimular os diferentes colectivos a empreenderem processos de desenvolvimento social (resposta às suas necessidades num espaço, tempo, situações determinadas) e cultural, (construindo a sua própria identidade colectiva, criando e participando nos diferentes projectos e actividades culturais) ”.
Para que os idosos estejam satisfeitos no seu contexto, as suas competências e necessidades devem estar contempladas nas características do mesmo. “Se o contexto for muito exigente ou pouco apelativo, não há adaptação. Deste modo, o ambiente deve apresentar algum desafio, que permita ao idoso desenvolver competências. Porém, se houver demasiados desafios, a sobre-estimulação aumenta o stress e impede o funcionamento. Deste modo, os idosos devem evitar ambientes pouco estimulantes e ambientes que representem muitos desafios” (Osório et al, 1998).
A animação sociocultural (ASC) supõe uma função social na comunidade e é, ao mesmo tempo, um factor operativo para a transformação da realidade nos diferentes grupos sociais.
Nos Lares para idosos, a ASC tem a finalidade de proporcionar actividades de animação aos idosos de uma determinada população, torna-se necessário estimular o convívio e a integração através da ocupação dos tempos livres, de forma adequada e que permita “encarar a velhice como uma etapa de plenitude e realização pessoal” (Osório et al, 1998).
Para esse efeito, os programas de ASC devem ser muito diferentes e adaptados às situações do grupo e respectivas necessidades, pelo que os Animadores socioculturais devem de ser um recurso integral dentro do conjunto dos Técnicos sociais de que os Lares para idosos e seus clientes devem dispor.
A ASC para idosos deve incentivar as boas relações entre os residentes, familiares e pessoal do Lar, intervindo profissionalmente, quando se detectam conflitos; desenvolver os contactos pessoais das pessoas idosas com o exterior do Lar; manter a boa imagem na aparência física dos residentes; estimular os contactos com a família e amigos ou próximos de cada pessoa; estimular o exercício dos conhecimentos e experiências dos residentes; favorecer a criatividade e a expressão corporal, mediante sessões e programas de exercício físico.
A necessidade destes programas revela-se de importância fulcral, porque a pessoa idosa permanece muito tempo desocupada, o que acaba por ser um factor gerador de tensão do idoso que reside no Lar, situação que tem repercussões ao nível da saúde e do bem-estar. “Os estados depressivos são fomentados pelo tempo vazio excessivo, que conduz ao tédio e à apatia, com perda progressiva de identidade, baixa auto-estima” (Trilla, 1998.)
Resumindo, A ASC deve gerar processos geradores de convivência, participação e desfrute do ócio e da cultura.
Neste sentido, a limitação das perspectivas de futuro, a falta de objectivos e as razões para continuar a viver uma vida digna e com sentido, exige uma intervenção rápida e adequada.
Um programa integral de animação sociocultural deve considerar diversos aspectos, nomeadamente os culturais, os psicossociais, o socioeducativo e os terapêuticos. As actividades podem ser variadas (actividades de carácter lúdico, intelectual, psicológico, físico, social; actividades de destreza manual e outro tipo de actividades).
O grande princípio básico consiste em possibilitar às pessoas idosas uma vida digna, para que continuem a aproveitar as oportunidades para o desenvolvimento pessoal e que, no ambiente institucional dos Lares, se crie uma melhor qualidade de vida.
Tendo em consideração estas referências gerais, consideramos que a ASC com as pessoas idosas tem características específicas, que podem centrar-se nas seguintes dimensões:
A dimensão intelectual que, como “ principio da actividade”, deve favorecer a prática do exercício mental, para aquisição de novos conhecimentos, o exercício das actividades cognitivas, a criatividade (literatura, arte, etc.), a autonomia pessoal em relação com as ideias, as crenças, as correntes de pensamento, entre outras.
A dimensão biológica, que deve assumir como referência geral, a manutenção da saúde física nos diferentes âmbitos, já que esta favorece a ausência de muitas limitações a que somos sujeitos com o passar dos anos, se não existir uma prevenção adequada.
A dimensão psicológica (carácter geral): a intervenção com as pessoas idosas permite níveis maiores de auto-conceito e auto-estima, bem-estar, realismo perante o apreço das próprias competências, maior estabilidade emocional e diminuição da ansiedade.
A dimensão social: participação na vida comunitária. Esta participação é uma referência importante porque permite, entre outros aspectos, novas relações sociais, que permitam gerar laços de proximidade com outras pessoas.


Podemos entender que a ASC constitui um recurso para os cidadãos, nomeadamente as pessoas idosas, desenvolverem novos interesses, novas actividades, um estimulante para a vitalidade física e mental e uma forma de ocupar o tempo disponível


 
Bibliografia

- Carta Internacional da Educação para o Lazer - Word Leisure e Recreaction Association, 1993).

- PEREIRA, J. D. L.; VIEITES, M. F.; LOPES, M. S. (Coord.) – A Animação Sciocultural e os Desafios do Século XXI. Ponte de Lima: Intervenção – Associação para a Promoção e Divulgação Cultural, 2008.

- OSÓRIO, Augustín Requejo – Animación Sociocultural en la Tercera Edad – in BERNET, Jaume Trilla (coord.), Animación Sociocultural, Barcelona, Editorial Ariel, S. A., 1998.

- PEREIRA, J. D. L.; VIEITES, M. F.; LOPES, M. S. (Coord.) – A Animação Sciocultural e os Desafios do Século XXI. Ponte de Lima: Intervenção – Associação para a Promoção e Divulgação Cultural, 2008.

- PERES, Américo N.; LOPES, Marcelino S. (Coord.)– Animação, Cidadania e Participação – Editora APAP (Associação Portuguesa de Animação e Pedagogia), Chaves, 2006.

- TRILLA, J. (Coord.) – Animação Sociocultural – Teorias, Programas e Âmbitos. Lisboa: Editorial Ariel, 1998.

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